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Ambev usa plataforma digital como novo modelo

Dona das marcas de cerveja BrahmaSkol e Antarctica, a Ambev começa a viver um “novo capítulo”, cuja história apresenta hoje a investidores. “Falar que somos uma companhia de bebidas já não nos representa mais inteiramente”, diz o presidente da Ambev, Jean Jereissati em entrevista ao Valor. O grupo quer ser uma plataforma, que vai além da venda de cerveja ou refrigerante e passa por alimentos e até mesmo serviços como crédito e geração de energia renovável.

Com um modelo de forte expansão via aquisições e corte de custos, buscando eficiência, a Ambev teve sucesso. “Foi a companhia que conquistou o mundo”, observa o executivo. “Mas quando fizemos 20 anos [em 2019] repensamos como seriam os próximos 20, e ficou claro que o que trouxe a gente até aqui não seria o que nos levaria até lá”.

Agora a Ambev quer fazer alianças como as que já tem com BRF, M. Dias Branco, Pernod Ricard e Beam Suntory para vender a seus clientes diferentes produtos como salames, biscoitos e vodca.

Jereissati diz que a pandemia da covid-19, em 2020, aumentou a “janela tecnológica” para a companhia colocar em prática o que começou a discutir entre o fim de 2015 e começo de 2016. “O mundo foi para o varejo on-line, se digitalizou e estávamos preparados quando a pandemia aconteceu.”

Antes da covid-19 apenas 15% dos cerca de 1 milhão de clientes da Ambev estavam digitalizados, hoje são 80%. “Antes [o canal digital] era uma opção, agora é nosso core. É lá que está tudo.”

O aumento da digitalização teve impacto importante na operação, acelerando o negócio. Um bar, por exemplo, pode fazer encomendas pela plataforma Bees. Isso deu mais tempo para o vendedor da Ambev. Antes da pandemia, ele tinha apenas sete minutos para falar com um cliente – são 5 mil vendedores para uma carteira de um milhão de clientes. Com a Bees, o bar ou restaurante acaba ficando em contato com a companhia por 37 minutos.

A digitalização também aumentou o guarda-chuva de atividades e a produtividade dos vendedores que, agora, são chamados de representantes. Os mesmos 5 mil que atendiam a 750 mil clientes, em 2019, atendem a 1 milhão e irão atender a 1,2 milhão em breve, diz o executivo.

Para isso, foi montada uma força de trabalho de mais 5 mil pessoas, com programadores e desenvolvedores de software, que se dedicam a aperfeiçoar as diversas tecnologias usadas pela Ambev e a criar novos produtos e serviços. Uma das prioridades é melhorar a logística. A empresa passou a usar pequenos galpões como centro de distribuição, e motocicletas, para acelerar as entregas.

“Nossas aquisições agora devem ser mais para melhorar nossas capacidades, em tecnologia e logística. E fazer alianças”, diz Jereissati. A companhia quer, por exemplo, desenvolver ou comprar uma empresa que tenha criado um software para gerenciar pedidos.

Nos últimos três anos, os investimentos da empresa, incluindo inovação, somaram R$ 17,5 bilhões, sendo R$ 7,7 bilhões somente no ano passado.

A Ambev, nos últimos dois anos, criou e conseguiu consolidar dois aplicativos: o Zé Delivery, que atende o consumidor final, e o Bees, para bares e restaurantes.

A plataforma que Jereissati coloca no centro de sua estratégia engloba a oferta de crédito a clientes. Do início da pandemia até o fim de 2021, a companhia dobrou a massa de crédito a pequenos varejistas. E a expectativa é de que dobre mais uma vez neste ano. As restrições sanitárias, que exigiram o fechamento de bares e restaurantes por meses a fio, provocaram uma crise nesse segmento. Por isso, diz Jereissati, “fomos muito flexíveis e rolamos os pagamentos”. A fintech Bees Bank, antes chamada de Donus, tem 250 mil contas digitais.

Esse novo modelo de operação ajudou a Ambev a vender 180 milhões de hectolitros em 2021 – um recorde. A receita líquida cresceu 24,8%, para R$ 72,85 bilhões. De acordo com ele, o ano foi menos sobre um grande crescimento da indústria e mais sobre ganho de mercado. “A gente foi muito contracíclico na pandemia.”

A concorrência ficou mais acirrada. A Heineken foi reclamar ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) neste ano contra os contratos de exclusividade da Ambev com bares. Jereissati mostra-se tranquilo: “Representa muito pouco das nossas vendas”. De acordo com fontes ouvidas pelo Valor, contratos de exclusividade respondem por cerca de 2% da receita da Ambev. O limite do Cade é 10%.

Fonte: https://valor.globo.com

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