A Ambev registrou mais um trimestre de forte expansão no volume de vendas. O desempenho foi um dos destaques da operação de sua controladora, a AB InBev, cuja receita de julho a setembro cresceu 11,7%, para US$ 14,27 bilhões. Há, porém, a resistente pressão inflacionária que segue espremendo as margens e tem exigido mais estratégias de precificação.
Neste mês, a Ambev fez o segundo reajuste de preços no ano. Concentrado nas latas, o objetivo era ter menos impacto para bares restaurantes, canais que usam mais garrafas retornáveis e que começam a demonstrar reação. Mas a incerteza e a volatilidade nos custos não devem sumir tão cedo.
No terceiro trimestre, o volume consolidado de vendas da Ambev saltou 7,7%, para 45 milhões de hectolitros. Nos últimos 12 meses a empresa chegou ao seu maior patamar de produção, de 180 milhões de hectolitros, superando o pico histórico de 2015. O Brasil, que responde por 50% dos volumes de cerveja, foi um dos mercados que puxaram a produção, com o volume saltando 7,5% na base anual e 34,8% em relação ao terceiro trimestre de 2019.
O quadro indica que a Ambev está conseguindo abocanhar fatias de mercado que estavam com as concorrentes. A Heineken divulgou que seus volumes caíram mais de 10% no país, puxados principalmente pelo forte recuo das marcas mais econômicas. O banco Morgan Stanley se pergunta se o forte desempenho da Ambev não prejudicou estruturalmente as marcas do Grupo Petrópolis, o terceiro maior do setor, dono da Itaipava.
“Estamos ganhando muita participação de mercado. Quando olhamos para a concorrência, os dois principais estão produzindo abaixo de 2019 e não me parece ser por restrição. Os clientes estão aí para comprar. Nós é que estamos sendo mais atraentes”, disse Jean Jereissati, presidente da Ambev, ontem.
Embora tenha visto melhora das marcas principais (Skol, Brahma e Antarctica), a Ambev argumenta que o que segue puxando suas vendas são as “inovações”, ou lançamentos feitos nos últimos três anos, como é o caso da Brahma Duplo Malte ou das alemãs Spaten e Beck’s, recentemente trazidas ao Brasil. Atualmente, 20% da receita vem dos “novatos”, que se misturam ao crescimento dos rótulos premium e core plus (patamar intermediário de preços).
A receita da companhia cresceu 18,5% no trimestre, para R$ 18,49 bilhões, mas os custos saltaram 24%. O lucro de R$ 3,55 bilhões foi 56% maior do que um ano antes, mas ajudado pelo reconhecimento de créditos após decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a incidência da Selic no Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
As margens de lucro ficaram menores do que há um ano. Mas isso não impediu que a ação da Ambev terminasse o pregão a R$ 16,63, uma valorização de 9,26%.
O diretor financeiro da Ambev, Lucas Lira, diz que há confiança para que o Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] nominal da empresa supere 2019. No acumulado até setembro, o resultado é de R$ 16 bilhões, R$ 4 bilhões acima do mesmo período de 2019. Segundo o executivo, as commodities devem seguir como uma pedra no sapato nos custos, mas 2022 deve ter um impacto menor do câmbio.
O repasse feito agora foi no limite do bolso do consumidor e para garantir que a cerveja continuaria competitiva, disse o executivo, que está otimista. “Em 2022, na medida que a vacinação continue avançando, acreditamos que existe a possibilidade de haver grande encontro dos consumidores, pois existe uma demanda reprimida”, diz Lira, citando Carnaval e a Copa do Mundo do Catar.