A Lemon, startup que permite o “aluguel” remoto de placas de energia solar a pequenos comerciantes e tem a Ambev como sócia, recebeu um aporte de R$ 60 milhões. Os recursos devem ajudar a companhia a tirar do papel seu ambicioso plano de crescimento: expandir a carteira de clientes de 3 mil para 250 mil em apenas três anos.
O novo investimento foi liderado pelo fundo Kaszek e teve participação da Lowercarbon Capital, gestora com foco em impacto ambiental fundada pelo badalado investidor Chris Sacca. Foi o primeiro aporte do fundo na América Latina. Também assinam o cheque Kevin Efrusy (investidor de primeira hora do Facebook) e Sergio Furio, fundador da fintech brasileira Creditas.
A Lemon não informou em quanto foi avaliada com o novo aporte. Até então, a companhia, fundada em 2019, já havia levantado R$ 17 milhões junto a investidores como a Z-Tech, hub de inovação da Ambev.
Fundada pelo economista Rafael Vignoli (CEO) e pelo engenheiro Luciano Pereira (CTO, ou diretor de tecnologia), a Lemon atua no filão conhecido como “geração compartilhada”, permitida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) desde 2015.
Nessa modalidade, em vez de instalar painéis solares no próprio telhado — o que envolve custos de investimento e manutenção que só se pagam no longo prazo —, o consumidor “compra” energia gerada nas chamadas “fazendas solares”. Essas fazendas são usinas fotovoltaicas, geralmente localizadas fora dos centros urbanos, que concentram número elevado de placas solares e produzem energia para diversos consumidores ao mesmo tempo.
O modelo resolve alguns dos pontos cegos da “geração distribuída”, permitindo que também se beneficie da energia renovável mais barata quem ocupa imóveis alugados ou nos quais não é possível instalar seu próprio painel solar.
Foco em bares e restaurantes
O foco da Lemon são micro e pequenos empresas que consomem pelo menos R$ 500 por mês — a fatura média desses clientes gira em torno de R$ 1,3 mil. Os 3 mil clientes estão hoje “plugados” a 35 usinas localizadas em cinco estados (RJ, SP, PE, MG e MS) e no Distrito Federal. (Pelas regras da Aneel, o cliente só pode se beneficiar do arranjo se a usina geradora estiver sob a mesma área de concessão dele).
Ao alugar remotamente placas solares por meio da Lemon, essas empresas ganham créditos que garantem descontos na fatura da distribuidora. Desde o início da operação, a Lemon diz ter proporcionado mais de R$ 4,3 milhões em descontos nas contas de luz dos clientes.
— Esse desconto fica entre 10% e 20%. Além disso, o cliente se livra da bandeira tarifária, o que pode fazer com que a conta fique até 30% mais barata em alguns estados — explica Pereira.
Quem se conecta à startup deixa de receber a fatura pela distribuidora tradicional e passa a recebê-la por meio da Lemon já com o desconto aplicado. A startup não cobra taxas dos clientes, mas recebe uma fatia do faturamento das usinas solares plugadas à plataforma.
Seu plano ousado de atingir 250 mil clientes até 2025 está sendo alavancado pela The Energy Collective, iniciativa da marca Budweiser, da Ambev, que quer levar energia limpa para estabelecimentos que vendem os produtos da cervejaria, como bares e restaurantes.
Contratações
Além disso, um dos objetivos da nova rodada é crescer a equipe. O plano é aumentar o time de 90 para 150 funcionários até o fim do ano que vem. Como a companhia não tem escritório fixo, o trabalho é remoto.
— Estamos indo na contramão da onda de demissões que atinge startups e vamos contratar mais gente — afirma Vignoli. — Entendemos esse mercado de energia como um oceano azul, com muito espaço a desbravar. Seu momento é semelhante ao do sistema financeiro há dez anos, antes da explosão de fintechs. O futuro do sistema elétrico é menos sobre Itaipu e mais sobre uma geração local e descentralizada.