Issabela Reis, de 25 anos, está prestes a “nascer de novo”, como ela mesma diz, desde que foi convidada pela empresa onde trabalha para ser uma das pessoas trans a serem beneficiadas com um projeto inédito na companhia de retificação de nomes.
Issabela é graduada em Gestão de Recursos Humanos pelo Instituto Federal de São Paulo. Prestes a completar um ano como analista de gente e gestão da Ambev, em 22 de junho, a paulistana conta que o processo já estava nos planos e a notícia foi como um presente.
“Nunca pensei na possibilidade da companhia fazer isso. Pessoalmente, tinha um advogado que tratava alguns casos na família e já estava pesquisando, pra fazer por conta própria. Mas é um processo caro e tinha acabado de entrar na companhia. É um super presente que me deram. Fizeram um vídeo, marcaram uma reunião pra dar a notícia. Fiquei sem reação”, relata, em entrevista para a Banda B, na manhã desta sexta-feira (27).
O processo de alteração do nome de Issabela começou em fevereiro deste ano. Falta o encaminhamento de alguns documentos autenticados para dar sequência à concretização do sonho da analista.
Issabela, que já sofreu transfobia em outra empresa que trabalhou, mesmo sendo inclusive premiada como uma das melhores funcionárias, avalia a iniciativa como um significativo olhar para a importância de tratamento e de identificação da existência das pessoas trans e travestis.
“Qual a necessidade de eu ter meu nome social respeitado e que isso altere em todos os sistemas governamentais? Isso é muito legal, um olhar muito empático pra minha segurança, considerando o histórico da nossa base, de onde a gente vive. O Brasil é um dos países que mais matam pessoas trans e, ao mesmo tempo, que mais sexualizam e nossos corpos acabam sendo muito violentados”, desabafa ela.
Foram muitas dificuldades na infância e adolescência, que deixaram um “fardo pesado de representação” na vida de Issabela. Para ela, ter o nome legalmente alterado é como um renascimento aos 25 anos de vida.
“Vai ser onde a Issabela de fato vai existir, oficialmente como uma cidadã e como pessoa. Antes, era muito dentro do meu imaginário. Agora, é como se eu estivesse materializando essa Issabela e sendo humana, me sentindo realmente uma pessoa”, celebra a analista.
Ela considera também uma representação de respeito, de ocupação de espaço e de acolhimento: “De entender que possam ter pessoas trans no Brasil, que possam viver e serem respeitadas. Em contrapartida a tudo que temos de violência, se for olhar questões de lei, a gente já tem avanços. É um movimento um pouco moroso, mas a gente já está olhando pra isso. Realização total.”
A identificação é uma batalha também do analista de insumos da Ambev Felipe Ferreira de Barros. Ele conta que, há cinco anos, se descobriu um homem trans e, desde então, tem lutado muito para ter o nome e o gênero reconhecidos profissionalmente e pelo Estado. O colaborador esbarra, porém, em travas jurídicas e financeiras.
“Quando tive a oportunidade de ter meus documentos retificados pela Ambev, senti alívio, esperança e acolhimento por parte de todos. Me senti visibilizado e surpreso por haver uma empresa que, de fato, promove uma política de pertencimento as minorias”, comemora.
“Me chame pelo meu nome”
A iniciativa inédita dentro da Ambev é uma das práticas da empresa que objetivam garantir a diversidade, equidade, inclusão e direitos. Batizado de “Me chame pelo meu nome (e pronome também)” tem a intenção de apoiar o time de pessoas trans e travestis da empresa no processo de retificação de seus nomes de forma totalmente gratuita para eles e com todo o suporte necessário.
Atualmente, a Ambev tem mais de 100 pessoas trans, que atuam em diferentes níveis hierárquicos. Entendendo todas as questões burocráticas que englobam a alteração de nome, a empresa contratou um advogado especializado no tema para realizar todo o processo para colaboradores que desejarem a troca.
Na Ambev, respeito e empatia são valores inegociáveis para que a gente possa transformar vidas para além do nosso ecossistema. Afinal, ser quem você é te dá liberdade para criar, inovar, discutir e engajar seus planos e movimentos na companhia”, afirma Michele Salles, Head de Diversidade, Inclusão e Saúde Mental da Ambev.
Além disso, para que pessoas em situação de vulnerabilidade também possam realizar este sonho, a companhia fará uma doação proporcional ao valor investido em seus colaboradores a uma Organização Não-Governamental chamada Casa Neon Cunha, que faz o acolhimento de pessoas da comunidade LGBTQIA+. O valor arrecadado será enviado à entidade, para que possa ser realizada a retificação do maior número possível de nomes. A companhia também lançou um guia de apoio a eventuais desafios práticos, que tem ainda conteúdos exclusivamente pensados para apoiar a jornada da população trans e travesti dentro do seu ecossistema.
Fonte: https://www.bandab.com.br