A startup Água Camelo, que distribui kits de filtro e armazenamento de água, ampliou a sua operação no final do ano passado para a Aldeia Mutum, no Acre, e o Morro da Providência, no Rio de Janeiro, em um projeto-piloto que ocorre na Aceleradora 100+ da Ambev.
A empresa de inovação foi uma das selecionadas no ano passado pelo programa da cervejaria, ao lado de Afroimpacto, Aterra, Diversidade.io, Inspectral, IQX, Recigases, TRC Sustentável e Via Floresta. Além de treinamento e mentoria, as startups participantes têm a chance de receber aportes ao longo do programa.
As localidades foram escolhidas por causa de suas discrepâncias e estão passando por análises de metodologia. É a terceira turma contemplada pela iniciativa, em um momento em que a agenda ESG (sigla em inglês para os princípios ambiental, social e de governança) ganha força.
Fundada em agosto de 2020, a startup distribui kits que levam um filtro de água portátil, um suporte de parede e um manual de uso e manutenção para pessoas em situação de vulnerabilidade. Segundo os fundadores, o filtro tem validade de 10 anos: para limpar, basta passar a água pelo fluxo contrário.
“Muitas vezes, para trocar a vela do filtro a pessoa tem que fazer um deslocamento tão grande que ela acaba deixando de lado e bebendo uma água que não é própria para ser consumida”, afirma um dos fundadores da startup, Rodrigo Belli.
Cada kit é ofertado por R$ 500 —nos quais já está embutido o lucro da empresa—, mas o consumidor final sempre o recebe de graça. No início, pessoas físicas e jurídicas apadrinhavam beneficiários, mas hoje a startup mudou o seu modelo de negócio.
“Tem muitas empresas olhando para isso como um serviço que elas querem contratar”, diz Belli. Por isso, o foco atualmente é oferecer essa solução a grandes companhias, normalmente as que querem promover algum impacto social.
Chegar à Amazônia era uma meta do grupo, especialmente de João Manuel Piedrafita, acreano que cresceu em contato com comunidades indígenas por influência de seus pais —sua mãe trabalha com extrativistas e seu pai é antropólogo.
A empresa tem remunerado parceiros estratégicos nos locais, como líderes e assistentes sociais, para garantir a chegada e o uso do kit.
“A gente entendeu que, para escalar o nosso negócio, precisaria contar com pessoas na ponta que já tivessem uma troca fixa com a comunidade”, diz Piedrafita.
A ideia da startup começou na faculdade de design da PUC-Rio, onde os três amigos de infância se reencontraram, e tomou forma em 2020, quando distribuíram mais de 500 kits. Hoje o número passa de 800.
“Entendemos que poderia ser uma forma de mitigar os efeitos da pandemia. Muito se falava para lavar a mão, mas tinha gente que não tinha água em casa”, diz Belli. O terceiro fundador da marca é Daniel Ilg Leite.
A escolha de estruturar uma empresa, e não uma ONG, também foi pensada.
“O lucro faz a gente conseguir colocar gasolina para dentro dessa engrenagem. Com dinheiro a gente consegue reverter ainda mais dinheiro para a empresa, crescer e gerar mais impacto. A gente não quer ficar dependendo de doações ou dinheiro externo, quer gerar o nosso próprio dinheiro”, afirma o Belli.