A legislação brasileira sobre bebidas é dividida em dois segmentos: as normas referentes ao vinho e derivados da uva e do vinho e as normas relativas às demais bebidas. Sobre cervejas:
Definição: Cerveja é a bebida alcoólica fermentada resultante da fermentação, a partir da levedura cervejeira, do mosto de cevada malteada ou de extrato de malte, submetido previamente a um processo de cocção adicionado de lúpulo ou extrato de lúpulo, hipótese em que uma parte da cevada malteada ou do extrato de malte poderá ser substituída parcialmente por adjunto cervejeiro (Decreto nº 6.871/2009, art. 36, alterado pelo Decreto nº 9.902/19).
Denominação: Cerveja + (classificação quanto à proporção de matérias-primas)1 + (classificação quanto ao teor alcoólico)
Fonte: I.N. Mapa nº 65/2019, art. 9º, caput e parágrafo único.
Nota: 1 A denominação do produto deve ser composta, nesta ordem, de suas classificações quanto à proporção de matérias-primas e quanto ao teor alcoólico (I.N. Mapa nº 65/2019, art. 9º, caput e parágrafo único).
Classificação quanto à Proporção de Matérias-Primas Cerveja
Quando elaborada a partir de um mosto cujo extrato primitivo contém, no mínimo, 55% em peso de cevada malteada e, no máximo, 45% de adjuntos cervejeiros.
- Cerveja 100% Malte ou Cerveja Puro Malte Quando elaborada a partir de um mosto cujo extrato primitivo provém exclusivamente de cevada malteada ou de extrato de malte.
- Cerveja 100% Malte de + (nome do cereal malteado)” ou Cerveja Puro Malte de + (nome do cereal malteado)
- Quando elaborada a partir de um mosto cujo extrato primitivo provém exclusivamente de outro cereal malteado.
- Cerveja de + (nome do cereal ou dos cereais majoritário(s), malteado(s) ou não)
Quando elaborada a partir de um mosto cujo extrato primitivo provém majoritariamente de adjuntos cervejeiros, sendo que: a) esta poderá ter um máximo de 80% em peso da totalidade dos adjuntos cervejeiros em relação ao seu extrato primitivo e o mínimo de 20% em peso de malte de cevada ou malte de (nome do cereal utilizado); ou b) quando dois ou mais cereais contribuírem com a mesma quantidade para o extrato primitivo, todos devem ser citados na denominação.
Classificação quanto ao Teor Alcoólico
Expresso em % ( em v/v, a 20 °C Mínimo Máximo).
- Cerveja sem Álcool ou Cerveja Desalcoolizada – ≤ 0,5
- Cerveja com Teor Alcoólico Reduzido
- Cerveja com Baixo Teor Alcoólico > 0,5 ≤ 2 Cerveja > 2 ≤ 54
FAMÍLIAS CERVEJEIRAS
ALE
As cervejas da família ALE são conhecidas pelas leveduras de alta fermentação (Saccharomyces cerevisiae), o que tende a ter os sabores mais complexos e aromas frutados e de especiarias. Têm uma personalidade marcante e contam com uma ampla variedade de estilos, como IPA, Witbier, Weizenbier, Red Ale e Stout.
LAGER
As cervejas da família LAGER usam leveduras de baixa fermentação (Saccharomyces pastorianus), resultando em geral, em cervejas mais suaves, refrescantes e com um perfil mais limpo e equilibrado, é sinônimo de drinkability. Exemplos populares incluem Pilsner, Vienna Lager, American Light Lager e Dunkel.
SELVAGEM
Utiliza leveduras e bactérias selvagens, como Brettanomyces, Lactobacillus e Pediococcus. Esses microrganismos contribuem para sabores e aromas únicos, frequentemente ácidos, terrosos, frutados ou “funky”. As cervejas selvagens são muitas vezes fermentadas espontaneamente, capturando leveduras e bactérias presentes no ambiente. Exemplos populares são as Lambics, Manipueiras e Wild Ales.
ESTILOS CERVEJEIROS
A categorização de estilos de cerveja surgiu para padronizar e identificar as diversas características das cervejas produzidas ao redor do mundo. Essa padronização é essencial para que cervejeiros, consumidores e juízes de competições possam entender e avaliar as cervejas de maneira consistente.
Nas décadas de 1970 e 1980, com o fortalecimento do movimento das microcervejarias (craft beer), especialmente nos Estados Unidos e no Reino Unido, pequenos produtores começaram a resgatar estilos tradicionais e a experimentar novas receitas. Isso resultou em uma explosão de diversidade no mundo cervejeiro, e a necessidade de padronizar esses estilos para competições e para a educação dos consumidores se tornou evidente.
Um dos grandes nomes que ajudaram a organizar essa fase de transição foi o escritor inglês Michael Jackson. Com suas publicações sobre whisky e cerveja entre as décadas de 1970 e 2000, ele alcançou sucesso no mercado mundial, trazendo conhecimento e prestígio às cervejas. Suas viagens por diversas cervejarias ao redor do mundo permitiram que ele explorasse e divulgasse a diversidade de estilos, tornando-se uma referência essencial na evolução do mercado cervejeiro global.
Além dele, a principal referência histórica para a formalização dessa categorização veio do trabalho do Professor Anton Piendl, que publicou entre 1982 e 1994 a série “Biere Aus Aller Welt” na revista alemã Brauindustrie. Fred Eckhardt, outro nome importante, consolidou o conhecimento sobre estilos cervejeiros com o lançamento do livro “The Essential of Beer Styles” em 1989.
Desde 1979, a Brewers Association tem compilado diretrizes e descrições de estilos de cerveja, oficializando seu uso como guia a partir de 1993. Outra organização fundamental para essa padronização foi o Beer Judge Certification Program (BJCP), fundado em 1985, que criou uma categorização detalhada e formal, especialmente focada na avaliação de cervejeiras caseiras, mas amplamente utilizada em todo o mercado.
Atualmente, a Brewers Association é o principal guia de estilos para cervejas comerciais, dividindo-se em três grandes famílias — Ale, Lager e Híbridas — e descrevendo 184 estilos. Com a criatividade e a diversidade sempre crescentes na produção de cervejas, novos estilos e variações continuam surgindo, ampliando essa rica taxonomia cervejeira.
Essa categorização não apenas padroniza, mas também celebra a diversidade e a inovação do mundo cervejeiro, auxiliando na constante evolução da bebida.
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