Disposta a acelerar a mudança da frota de transporte de suas bebidas, a Ambev fez parceria com a Eletra, de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, para converter veículos a diesel em elétricos. Numa primeira etapa, 102 caminhões com cinco a dez anos de uso vão passar pelo processo conhecido como retrofit.
A alteração consiste em retirar todos os componentes agregados ao sistema de combustão, como motor, caixa de câmbio e tanque de combustível, e substituir pelo sistema elétrico. Além de ter uma frota mais sustentável, a empresa evita que, ao serem revendidos, esses caminhões continuem poluindo, pois a maioria continua em circulação por mais de 20 anos.
Esse novo acordo é mais um passo para a empresa atingir sua meta de reduzir em 25% a emissão de CO2 em toda sua cadeia operacional até 2025, compromisso assumido em 2018 que envolve várias iniciativas, entre as quais uma frota de veículos movida a combustível limpo.
A Ambev já tem outras duas parcerias em andamento, com a Volkswagen Caminhões e Ônibus de fornecimento de 1,6 mil caminhões elétricos e com a Fábrica Nacional de Mobilidade (FNM), para mil veículos movidos a energia, ambas para entregas até 2023.
Hoje, a companhia de bebidas tem frota dedicada de 4,5 mil veículos e continuará trabalhando em outras ações para que todos eles, ou o maior número possível, sejam movidos a combustíveis limpos, afirma Marco Aurélio Filho, gerente de Suprimentos Logística da Ambev.
Um dos objetivos da parceria com a Eletra, que fará o serviço de retrofit nos 102 caminhões ao longo do ano, é acelerar o processo de substituição dessa frota, como complemento aos modelos elétricos que estão sendo adquiridos. “As três parcerias são complementares”, diz Aurélio Filho, que enxerga potencial para ampliar o serviço de transformação.
Consumo menor e menos manutenção
A diretora executiva da Eletra, Ieda Oliveira, informa que, após o retrofit, a emissão dos caminhões praticamente zera e a empresa tem direito a 100% de créditos de carbono referentes ao que o veículo deixa de jogar em CO2 para a atmosfera. Todas as peças retiradas são recicladas e viram matéria-prima. “O ciclo de sustentabilidade se fecha”, diz.
Dois caminhões retrofitados circulam em testes na Ambev há um ano, na distribuição da zona sul de São Paulo e região. Antes da mudança, os veículos passam por revisão para garantir que a parte reaproveitada, como cabines, sistemas pneumáticos e de freios, está em ordem. “Após o retrofit eles praticamente ficam novos”, afirma Ieda, acrescentando que os custos com manutenção são reduzidos em cerca de 50% em relação ao veículo a diesel.
Segundo o resultado dos testes, o caminhão elétrico emite 0,05kg de CO2 por viagem, ou quase zero de emissões poluentes. O consumo médio é de 1 kW/h por quilômetro, o que representa economia de mais de 70% em relação ao similar movido a combustível fóssil. A ausência de ruído é outra vantagem.
Aurélio Filho não informa investimentos no programa de eletrificação da frota. Os custos com compra de veículos elétricos ou do processo de conversão são bancados pelos operadores logísticos da frota da Ambev, mas a empresa está sempre na retaguarda, inclusive financiando projetos.
Ieda diz que o custo do retrofit é muito variável pois depende, por exemplo, do modelo do veículo, se a autonomia será de 50 ou 200 quilômetros, tipo de carga que transporta, se faz muitas paradas e uso – se para terrenos acidentados ou não.
Única empresa 100% nacional que trabalha com sistema de tração elétrica para ônibus (especialmente trólebus) e caminhões no Brasil, a Eletra, com sede em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, vai investir R$ 30 milhões este ano para ampliar a capacidade da linha de retrofit de 30 para 100 unidades ao mês.
Com o projeto da Ambev, a empresa vai ampliar o quadro de funcionários de 240 para 400 pessoas, informa Ieda. Ela afirma que em cerca de dois meses deve anunciar novos clientes de grande porte no segmento do retrofit.
Usinas de energia solar
A Ambev está construindo 48 usinas solares para abastecer 94 centros de distribuição em todo o País. Serão instalados 51 mil painéis solares com capacidade para gerar 19 megawatts (MW), o suficiente para abastecer 15 mil residências. A intenção é ter pontos de recarga para veículos em centros estratégicos para carregamento noturno, quando os veículos voltam às garagens.
O gerente de Suprimentos da cervejeira informa que a empresa avalia diversas alternativas para atingir o compromisso de redução de emissões, inclusive veículos a gás natural para a frota de 1,3 mil caminhões de transferência, as grandes carretas de transporte de cerveja das fábricas para os centros de distribuição, que normalmente percorrem caminhos longo por estradas.
“Largamos na frente no processo de investimento em programas de sustentabilidade, mas esperamos trazer o mercado junto com a gente e auxiliar no que for possível para outras empresas começaram a investir nessa área”, diz Aurélio Filho.