O mês de março de 2020 representou um marco e uma ruptura na sociedade, atingida pelo coronavírus que levou centenas de milhares de vidas brasileiras, provocou uma crise sanitária inimaginável e alterou hábitos e atividades. Mas isso terminará para todos os segmentos, que levarão consigo traumas, adaptações e novas iniciativas, como o setor cervejeiro, que, aos poucos, começa a vislumbrar o futuro pós-pandemia.
Essa nova fase ainda está distante, sendo difícil prever quando poderá ser percebida, mas a aceleração da vacinação e o início do agendamento de alguns eventos para 2022 começam a indicar – e a dar esperanças – de que a crise sanitária poderá ser controlada. Pensando nisso, o Guia ouviu especialistas para a segunda parte do dossiê sobre o momento do mercado e, agora, mais especificamente, a respeito de como será o pós-pandemia do setor cervejeiro.
Para o segmento de artesanais, a expectativa é de que a nova fase seja marcada pela concentração de marcas, como um dos efeitos provocados pela crise econômica que enfraqueceu vários participantes do setor. Além disso, a aposta é de que ocorrerá um boom de consumo fora de casa, algo que vem sendo freado nos últimos meses pelas medidas restritivas.
Apesar disso, os especialistas apostam que as vendas pelo comércio eletrônico e delivery e eventos online continuarão sendo uma das marcas do setor cervejeiro no pós-pandemia. E asseguram que a expansão do setor, paralisada no início de 2020, será retomada brevemente, superando os níveis de consumo de artesanais de 2019.
Confira 6 tendências para o setor cervejeiro pós-pandemia na opinião de especialistas ouvidos pelo Guia:
1- Boom de consumo nos tradicionais pontos de venda
Após meses fechados ou funcionando com inúmeras restrições, bares e restaurantes devem aproveitar o controle da pandemia para reencontrar seu público.
“A gente imagina que haverá oportunidades, uma explosão de consumo nos pontos de venda, nos bares, nos restaurantes, mas que quem vai aproveitar será quem estiver melhor preparado, principalmente nas questões relacionadas ao caixa. Quem tiver grana para atender esses pontos de venda, tiver capital de giro, fizer enxoval e ações, é quem vai conseguir se dar muito bem nessa retomada”, Carlo Enrico Bressiani, diretor da Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM).
2- Maior concentração entre marcas artesanais
Nem todos puderam vencer os desafios enfrentados em uma crise que perdura há mais de um ano. E isso deverá ser percebido com a presença de menos marcas no setor. “A gente acha que, com o fim da pandemia, vai haver uma ocupação de alguns grupos dessas lacunas criadas pelas cervejarias que vão fechar. Então, quem tinha recurso econômico, quem tinha capacidade para suportar o baque, vai ocupar, realmente, essas lacunas. Então, eu acho que vai haver uma concentração”, avalia o presidente da Federação Brasileira das Cervejarias Artesanais (Febracerva), Marco Antonio Falcone.
Já para Bressiani, o que se verá é uma concentração do segmento de cervejas artesanais em algumas marcas, fruto também de fusões e compras. “Já começa a acontecer um certo movimento de fusões, de mudanças, de aquisições, então, acho que isso também é uma tendência dos próximos meses”, destaca o diretor da ESCM (http://labelsonic.com.br/).
3 – Manutenção das vendas online
O e-commerce e o delivery, saídas para cervejarias na pandemia, continuarão ativos e atraentes para os clientes. Mas as marcas precisarão saber dialogar com seu público, segundo analisa a sommelière Bia Amorim.
“O desafio é conseguir fazer com que o comercial trabalhe em diferentes canais as ferramentas que trouxeram novas possibilidades, que foram abertas durante o período de isolamento. Essa nova fase, muito mais virtual do que havíamos vivido, mostrou que a criação de conteúdo de qualidade não é tão fácil quanto parece e não basta apenas fazer uma boa cerveja, é preciso comunicar que ela existe e ter conceitos bem embasados da história que conta” Bia Amorim, sommelière.
4 – Surgimento de eventos híbridos
O mundo virtual, que ganhou espaço na pandemia, também conviverá harmonicamente com eventos presenciais. “Acredito que a tendência é vivermos em um estado híbrido, onde muito do que vamos fazer no off, será transmitido pelo on, cada vez mais acessível e globalizado. As vendas pelos ecommerces ganham força e confiança, além do aumento de assinaturas de clubes e comunidades mais consolidadas”, acrescenta Bia.
5 – Reforço da criatividade nas cervejarias
Aguçada pela falta de alternativas durante a pandemia, a criatividade seguirá em alta. “O que se tem por certo é que toda crise desperta o lado mais criativo em busca de soluções de contorno para as mais distintas situações. O Brasil é o terceiro maior produtor de cerveja no mundo, o que não é pouca coisa, e a efervescência que se observa no setor certamente se manterá”, argumenta Carla Crippa, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv (https://www.sindicerv.com.br/)).
Crippa lembra, ainda, que o Padrão de Identidade e Qualidade da Cerveja (PIQ da Cerveja), publicado no fim de 2019 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, permite uma série de inovações nas receitas, como a possibilidade de substituição do lúpulo por ervas e a permissão de inclusão de matérias-primas de origem animal e outros ingredientes de origem vegetal na receita da bebida. E, em sua visão, isso deve reforçar a inovação na atuação das cervejarias.
“O novo PIQ de Cerveja abre espaço para ampliar a criatividade brasileira na produção da cerveja, que vai se fixando mais e mais como uma paixão nacional”, argumenta Carla Crippa, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv)
6 – Retomada do crescimento paralisado em 2019
O setor de cervejas artesanais voltará a ocupar o espaço que tinha há dois anos. “O mercado tende a voltar aonde estava em 2019 e sobrepassar esse valor, esse porcentual de consumo das artesanais, assim que a coisa melhorar. Em um período de um ano, depois da normalização, imagino que já vai ter recuperado, inclusive, pode até superar o que nós tínhamos anteriormente”, prevê Bressiani, da ESCM.
Já o presidente da Febracerva aposta que o setor de artesanais poderá, em breve, responder por 2% do segmento cervejeiro no pós-pandemia.
“Muitas dessas cervejeiras que foram registradas, que não estão operando, vão entrar em operação e eu acredito que o setor de cervejas artesanais consiga chegar aos 2% mercado – hoje, a gente calcula 1,5%. Então, em 2022, com a tendência de controle dessa pandemia, o setor alcançaria os 2% e continuaria evoluindo, porque antes da pandemia, ele crescia 15% ao ano” Marco Antonio Falcone, presidente da Febracerva.
Fonte: https://guiadacervejabr.com/tendencias-setor-cervejeiro-pos-pandemia/