A Ambev está lançando o Bora, um programa de inclusão produtiva cujo objetivo é capacitar e conectar micro e pequenos empreendedores da área da alimentação ao mercado consumidor. A meta é ambiciosa – incluir 5 milhões de brasileiros no período de 10 anos, treinando, por intermédio de organizações parceiras do terceiro setor, e obtendo crédito e novos clientes para os participantes.
“O Bora é um convite, não usamos a marca da Ambev, a organização parceira pode dar nome ao próprio programa”, diz Carla Crippa, vice-presidente de impacto positivo e relações corporativas da Ambev para América do Sul. A empresa não informa o investimento previsto no programa como um todo.
No momento, duas instituições participam da fase piloto, com previsão de, juntas, formarem 3 mil pessoas. Uma delas é o Instituto da Criança, no Rio de Janeiro, que está capacitando mil jovens maiores de 18 anos para trabalhar em bares, restaurantes, hotéis e eventos e depois conectá-los com empresas do setor, aumentando as chances de conquistar um emprego.
O segundo é a Rede Mulher Empreendedora, que deu o nome de “Bora Empreender com Comida” para seu projeto. A rede foi fundada em 2010 pela empreendedora social Ana Fontes e já impactou a vida de 9 milhões de mulheres no Brasil inteiro. “Alimentação é uma das áreas em que as mulheres mais empreendem – fazendo bolos, marmitas, salgadinhos para festas – e o que a gente fez foi desenhar o programa junto com a Ambev, usando metodologias que ensinam o básico da gestão do negócio, dá noções de auto conhecimento e autoestima”, afirma Fontes. “Empreender é muito solitário. Para essas mulheres é ainda mais difícil, porque elas são questionadas pela família, amigos, com perguntas do tipo – ‘Ah, mas será que não é muita coisa para você dar conta? Tem a casa e os filhos, será que você consegue?’ São questionamentos sutis que minam a auto confiança delas.”
O “Bora Empreender com Comida” está com vagas abertas em Recife (PE) e São Luís (MA), e a meta é atingir duas mil mulheres em seis meses. Ao final, 40 mulheres que se destacarem receberão uma doação de R$ 1 mil, para investir no negócio. Parece pouco, mas ela conta o caso de uma senhora que vendia geladinhos na rua, e os carregava num grande isopor. O isopor era pesado, ela não podia ir muito longe com ele, e às vezes o produto derretia. “Com R$ 1 mil que ela obteve de um outro programa, ela pode comprar um carrinho de sorvete, que permitiu que fosse mais longe e começasse a vender em eventos. Isso deu outra dimensão a suas vendas”, conta. Segundo ela, o faturamento médio dessas microempreendedoras é de R$ 2.500 por mês e muitas vezes esta é a única fonte de renda da família.
Segundo Carla Crippa, o Bora se baseia em três pilares: conhecimento, apoio financeiro e conexões. No primeiro eixo, entram cursos profissionalizantes e oficinas, sempre ligados à área de alimentação e bebidas. No apoio financeiro, o programa oferece microcrédito, bolsas de estudo com vale alimentação e transporte; e nas conexões, faz a ponte entre quem precisa de trabalho e quem tem a vaga disponível. Neste último caso, a ferramenta utilizada para ligar as pontas é a Bees, plataforma digital da Ambev que cria conexões entre empresas e milhares de pontos de vendas, oferecendo soluções que ajudam os negócios a crescerem e se digitalizarem. A rede Bees tem 2,7 milhões de usuários cadastrados, mais de 100 fornecedores de 500 marcas. A plataforma é utilizada em 18 países onde a Ambev está presente.
“Vimos durante a pandemia nossa potência para usar estrutura, talentos e capilaridade e engajar nossos parceiros visando a resolver um problema de saúde pública. Vimos como esse engajamento trouxe resultados concretos”, afirma Crippa. “No pós-pandemia, a grande questão que ficou é a da pobreza e do desemprego. Por isso começamos um grupo de discussão para entender como poderíamos ajudar. O problema da pobreza é tão grande que, como dizem, as pessoas vendem o almoço para pagar o jantar. Não é que não queiram se qualificar para uma posição melhor, é que elas não conseguem se dar o luxo de financiar o próprio estudo.”
O Resilia Educação, organização que faz capacitação de jovens para trabalhar com tecnologia, será o próximo parceiro a ser anunciado. Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), Pacto Global da ONU e Fundação Getúlio Vargas são organizações com as quais a Ambev está conversando para tentar ampliar parcerias.
Fonte: https://valor.globo.com