LÚPULO: amargor, equilíbrio e uma camada de tempero na cerveja

O que chamamos de lúpulo são as “flores” verdes e em forma de cone, ou inflorescências, da planta Humulus lupulus, um dos ingredientes essenciais para a produção de cerveja nos dias de hoje. Essa planta trepadeira pode crescer até 30 centímetros por dia, subindo sempre em sentido horário pelas estruturas de sustentação. 

A complexa composição química e diferentes possibilidades de uso têm sido objeto de pesquisa em muitas universidades pelo mundo. O lúpulo é a principal fonte de amargor na cerveja, conferindo também  aroma e sabor  Além disso, possui qualidades conservantes naturais, sendo antimicrobiano e ajudando a evitar bactérias durante a fermentação, o que contribui para a preservação da bebida e melhorando a estabilidade microbiológica do produto final. 

Historicamente, o lúpulo desempenha  papel fundamental na produção de cerveja há séculos. O primeiro registro documentado de seu uso na bebida data de 822, em uma lista de regras para monges escrita por Abade Adelardo, no Mosteiro de São Pedro e São Estevão, na França. O cultivo de lúpulo remonta ao século IX, com registros de plantações entre 859 e 875 na Abadia de Freisingen, na Bavária, Alemanha. Além disso, há evidências de seu uso na medicina árabe no século X, onde o lúpulo era descrito como “eficiente para purificação do sangue e controle de febres”.

Atualmente, os lúpulos são cultivados de forma global,  em regiões como Alemanha, República Tcheca, Nova Zelândia e América do Norte, com destaque crescente para o Brasil, que tem avançado na sua produção nos últimos anos. As variedades de lúpulos são muitas, cada uma trazendo características únicas para a produção de cerveja.

VARIEDADES MAIS POPULARES DE LÚPULO

  • Amarillo
  • Centennial
  • Cascade
  • Chinook
  • Citra
  • Columbus
  • Crystal
  • East Kent Golding
  • Ekuanot
  • Ella
  • El Dorado
  • Fuggle
  • Galaxy
  • Hallertauer Tradition
  • Hallertauer Mittelfrüh
  • Idaho 7
  • Magnum
  • Mosaic
  • Nelson Sauvin
  • Nugget
  • Perle
  • Saaz
  • Simcoe
  • Sorachi Ace
  • Strata
  • Target
  • Tettnanger

Esses lúpulos podem ser utilizados de maneiras diversas durante o processo de produção, sendo capazes de conferir desde amargor até aromas e sabores complexos, como frutas cítricas, flores, ervas e pinho. Os sabores que os cervejeiros querem dar as suas cervejas, em geral, são de perfis que tragam:

  • Florais
  • Condimentados
  • Frutas tropicais
  • Cítricos
  • Herbais
  • Cítricos
  • Frutas de caroço

A química dos lúpulos é complexa, mas a evolução das técnicas de análise e produção permitiu que cervejeiros artesanais e industriais explorassem todo o potencial da planta. Além disso, a tecnologia moderna tem permitido que novos produtos derivados do lúpulo sejam desenvolvidos, oferecendo mais controle sobre o sabor final da cerveja. Produtos avançados de lúpulo, como os baseados em iso-alfa-ácidos reduzidos, são capazes de evitar sabores indesejáveis causados pela exposição à luz, tornando as cervejas mais estáveis.

A utilização criteriosa de lúpulos em cada fase do processo de produção permite que os cervejeiros personalizem suas criações, combinando variedades como temperos na cozinha. O lúpulo representa a complexidade e a arte da produção cervejeira, sendo um dos principais responsáveis pela diversidade e riqueza de estilos que conhecemos hoje.

Mas, e antes do lúpulo? O que trazia esse equilíbrio para as receitas de cerveja? Seria essa sua função central e mais importante?

GRUIT

O gruit era uma mistura de ervas e especiarias usada para aromatizar e conservar a cerveja antes do uso disseminado do lúpulo, especialmente na Europa medieval. Essa mistura variava conforme a região e as tradições locais, mas geralmente incluía ingredientes como:

  • Myrica gale: amarga e aromática, a mirra era um dos componentes principais do gruit e contribui com seu sabor amadeirado e propriedades conservantes.
  • Artemísia (Artemisia vulgaris): de sabor levemente amargo, a artemísia era usada para dar corpo à bebida e auxiliar na conservação.
  • Alecrim e Zimbro: proporcionam aroma e também têm efeitos antimicrobianos.
  • Bagas e outras especiarias: especiarias como gengibre e cominho eram usadas para intensificar o sabor.

Além do sabor e da conservação, o gruit também tinha uma função espiritual e ritualística. Algumas dessas ervas tinham propriedades psicoativas ou medicinais, e o gruit era, assim, uma mistura que variava de acordo com o objetivo e o efeito desejado. Ele era, em geral, controlado por igrejas e autoridades locais, que detinham o monopólio sobre a mistura e sua venda, algo que gerava uma fonte de receita relevante.

Com o passar do tempo, o uso do gruit começou a declinar. A introdução do lúpulo na cerveja na Idade Média, primeiramente na Alemanha, trouxe um método mais eficiente de conservação e um amargor que combinava bem com o sabor adocicado da bebida que vinha dos maltes. O lúpulo substituiu gradualmente o gruit, levando à expansão da cerveja de sabor mais consistente e segura para o seu consumo.

Saiba mais: Fontes

Como a Ambev pretende ganhar a corrida do lúpulo brasileiro

Os brasileiros têm vários motivos para considerar a cerveja um produto 100% nacional. O país, afinal, é um dos que mais consomem e produzem a bebida. E não dá para esquecer do papel de três brasileiros – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira – na história da AB Inbev, um gigante que hoje soma cerca de 200 cervejarias e faturou US$ 54,3 bilhões em 2021.

Só que praticamente todo o lúpulo usado pela Ambev, o braço brasileiro do conglomerado, vem de países como Estados Unidos, Alemanha, Argentina e África do Sul. Trata-se do ingrediente que confere aroma e amargor às cervejas – os cervejeiros, mesmo quando sóbrios, costumam falar em alma.

Chamar a cerveja de bebida brasileira, portanto, é forçar a barra. O único estilo considerado nativo, por sinal, é o Catharina Sour, oficializado em 2018. Trata-se de uma versão frutada do Berliner Weisse que você dificilmente encontrará nos bares de cerveja artesanal do país, nos quais IPAs e companhia costumam roubar a cena.

“É complicado falar em cerveja brasileira quando só se aposta, por exemplo, em estilos belgas e em lúpulo americano”, diz Felipe Sommer, coordenador de um projeto da Ambev que ambiciona alterar esse quadro. “Queremos fomentar a escola brasileira de cerveja”.

Sommer está à frente da Fazenda Santa Catarina, que pertence à Ambev e fica a 200 quilômetros de Florianópolis, no município de Lages. Desde 2020, a propriedade dispõe de uma planta de beneficiamento de lúpulo com direito a peladora (a máquina que separa as flores, também chamadas de cones), secadora, trituradora, peletizadora (responsável por dar forma rígida ao resultado final), embaladora e câmara fria.

A fazenda também dispõe de um hectare dedicado ao cultivo de lúpulo, que pertence à mesma família da maconha, vide a semelhança das flores das duas espécies – só a que é proibida provoca efeitos psicotrópicos, é bom frisar.

Mas a planta de beneficiamento não é voltada só para os lúpulos plantados pela Ambev em Santa Catarina. Isso porque a dona da Brahma e da Antarctica se aliou a dezesseis produtores enraizados no mesmo estado – em conjunto, são responsáveis por 26 hectares de lúpulo.

Com todos eles, a Ambev firmou o compromisso de adquirir tudo o que for colhido. Os produtores que enviam as flores já prensadas recebem R$ 150 por cada quilo. Aqueles para os quais a companhia de Jorge Paulo Lemann doou mudas, além de ajudar no manejo dos canteiros e se incumbir do beneficiamento, embolsam R$ 100 por cada quilo do produto final.

“Nosso objetivo é estimular o desenvolvimento da cadeia do lúpulo brasileiro”, afirma Sommer. “Os produtores daqui em geral são muito pequenos e não conseguem, por conta própria, ganhar escala e competitividade. Uma planta de beneficiamento, fundamental para o ingrediente não estragar, custa mais de seis dígitos”.

A Ambev não revela quanto investiu na Fazenda Santa Catarina. “É um número muito alto, para o qual ela não se enxerga payback”, desconversa o porta-voz. “O que move o projeto é o intuito de fomentar o segmento craft”.

A primeira safra, a deste ano, resultou em 1,4 tonelada de lúpulo peletizado. É o suficiente para produzir uns 700 mil litros de cerveja pilsen. Ou somente 28 mil litros de IPA, variedade que demanda mais amargor (a primeira safra foi celebrada durante 1º Festival de Colheita de Lúpulo, promovido pela Ambev na região em abril).

Para 2023, Sommer espera dispor de pelo menos 4,2 toneladas, levando em conta apenas o natural desenvolvimento das mudas de lúpulo, que dão mais flores com o passar dos anos – a colheita em Santa Catarina ocorre entre janeiro e abril.

A matéria-prima saída da Fazenda Santa Catarina já deu origem a cinco cervejas, todas com edições limitadas. Uma delas é a TodaNossa, uma Brazilian Pale Ale feita em parceria com a Lohn Bier, uma pequena cervejaria do estado.

A Little Cata, uma Catharina Sour, foi feita por essa mesma marca em conjunto com uma do grupo AB Inbev, a americana Goose Island, que tem um brewpub em São Paulo.

Já a riopretana Colorado, também do portfólio do conglomerado de Lemann, recorreu ao lúpulo da Fazenda Santa Catarina para criar a Colorado Brasil com S17, uma Hop Lager.

“O Brasil ainda está longe de ter uma produção regular de lúpulo e com escala suficiente para abastecer uma cerveja de linha”, acrescenta Sommer. Ele aproveita para dizer que a Ambev não tem planos de substituir os lúpulos importados, que costuma comprar com dois anos de antecedência.

Há cerca de 200 produtores de lúpulo espalhados pelo Brasil, estima-se. Estão localizados nas mais variadas regiões, de Alagoas ao Paraná. De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo), sediada em Lages, a safra catarinense deste ano deverá chegar a 10 toneladas.

A maioria das iniciativas do país começou a brotar a partir de 2018. As espécies plantadas, entretanto, ainda não se adaptaram completamente ao nosso solo – de origem americana, o lúpulo Chinook que brota na Fazenda Santa Catarina exala aroma de frutas amarelas como o maracujá.

A entrada da Ambev na corrida do lúpulo brasileiro espelha seu conhecido desejo de dominar o universo craft. De acordo com a Fortune Business Insights, as cervejas desse segmento movimentaram globalmente US$ 95,2 bilhões em 2020 – e US$ 102,5 bilhões no ano passado. A expectativa para 2028 é chegar a US$ 210,7 bilhões.

Quem saiu na frente na disputa pelo lúpulo nacional foi a cervejaria Baden Baden, de Campos do Jordão. Hoje nas mãos do Grupo Heineken, ela lançou um rótulo comemorativo feito só com variedades nacionais em 2014.

Vieram de um pequeno produtor de frutas de São Bento do Sapucaí, município vizinho. A segunda parceria, de 2017, deu origem à Marzen, de estilo homônimo.

Em 2020, a marca Black Princess, do grupo Petrópolis, lançou a Braza Hops. Os lúpulos dessa German Pils foram colhidos em Teresópolis, no Rio de Janeiro, e produzidos pelo mesmo grupo, também dono da Itaipava e da Petra, entre outras marcas.

Em parceria com o Viveiro Ninkasi, a empresa planta variedades de lúpulo oriundas de outros países desde 2018 – o projeto consumiu R$ 2,5 milhões. Começou com 316 mudas, de 10 espécies, para testar a adaptabilidade de cada uma, e ganhou mais 7 mil pés em 2019. Para 2021 a meta era chegar a 20 mil.

A Braz Hops leva quatros espécies – cascades, chinook, triple pearl e comet – que conferem notas herbais, florais e alguma picância.

Em 2021, o grupo Petrópolis começou a vender seus lúpulos, em flor, opção mais indicada para cervejeiros de pequeno porte, no e-commerce da companhia, o BomDeBeer.com.br. Três variedades foram disponibilizadas – cascade argentino, triple pearl e comet – a R$ 24,99, o pacote de 100 gramas.

Os lúpulos fluminenses foram os primeiros do país a obter aval do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A Ambev dificilmente engoliu essa conquista.

Fonte: https://neofeed.com.br

Ambev se prepara para colher a primeira safra de lúpulo

Da flor à matéria-prima, a Ambev, que busca lugar como precursora no desenvolvimento sustentável e de qualidade do lúpulo brasileiro em larga escala, se prepara para uma nova etapa no cultivo do insumo. Após dois anos desde o início do projeto que fomenta e incentiva a produção local do ingrediente, a companhia realiza o 1º Festival de Colheita de Lúpulo na Fazenda Santa Catarina, em Lages (SC), e espera colher a sua primeira safra, que será destinada para a receita de cervejas locais.

O evento ocorre nesta quarta-feira (13) e inaugura oficialmente a fábrica de beneficiamento de lúpulo da Ambev, construída há dois anos, e representa a materialização de todas as iniciativas da companhia para a implementação do insumo que, até então, era pouco produzido no Brasil, dadas as condições climáticas. Além de impulsionar o desenvolvimento de uma nova cultura em solo nacional, o projeto beneficia diretamente a comunidade local, a agricultura familiar, a academia e o ecossistema cervejeiro.

A Head de Conhecimento e Cultura Cervejeira da Ambev, Laura Aguiar, afirma:

“O Projeto Fazenda Santa Catarina comprova como o trabalho colaborativo entre Ambev, pesquisadores e agricultores tem força para tornar o Brasil um potencial produtor de lúpulo de alta qualidade. Cada vez mais, queremos apoiar a academia brasileira com tecnologia e inovação para pensar novas formas do cultivo sustentável de ingredientes cervejeiros.”

A programação do festival conta com visita à lavoura de lúpulo da Ambev, música, bebidas e comidas típicas da região, além da ativação de marcas do portfólio da companhia, como a Colorado, conhecida pelos ingredientes brasileiros em suas receitas, e a Goose Island, com toda a sua experiência em lúpulos, e que, juntas, vão realizar durante o evento a brassagem da Santa Lupulina, uma receita feita com goiaba serrana local e lúpulo colhido diretamente da Fazenda Santa Catarina.

A SILVER HOPS

A produção de lúpulo brasileiro ganhou reforço em dezembro. A iniciativa de fomento e incentivo à cultura de lúpulo da Ambev fechou uma parceria que amplifica sua atuação, agora no Estado de São Paulo. Ao lado da agritech Silver Hops, implantada na Fazenda Pratinha, na região de Ribeirão Preto, a companhia pretende ampliar a produção de lúpulo genuinamente nacional e realizar pesquisas de desenvolvimento à cultura do insumo cervejeiro.

A Silver Hops nasceu com a missão de implementar soluções de alta tecnologia no cultivo de lúpulo e colaborar para o desenvolvimento da produção nacional do ingrediente, muito em linha com o que já vendo sendo realizado pelo Projeto Fazenda Santa Catarina desde 2020, em Lages, com o principal objetivo de estimular a agricultura familiar. A expectativa é de que, com essa parceria, sejam criadas possibilidades para o cultivo e desenvolvimento de lúpulo nacional de qualidade em outros estados.

Em 2020, quase 100% do lúpulo utilizado para produção de cervejas nacionais foi importado, seguindo a oferta de mercado para grandes cervejarias e artesanais. Hoje, o projeto Fazenda Santa Catarina, da Ambev, vê uma possibilidade de alavancar este cenário, como conta Felipe Sommer, coordenador do Projeto Fazenda Santa Catarina da Ambev:

“Estamos trabalhando integrados para garantir uma produção de lúpulo nacional de altíssima qualidade. Estamos acelerando esse processo com parcerias que possuem sinergias entre si e com um ecossistema engajado em trabalhar dia e noite para propiciar as melhores condições para o desenvolvimento de um lúpulo com qualidade no Brasil.”

A parceria também é vista com otimismo por José Virgílio Braghetto Neto, responsável pela Silver Hops e que hoje integra o ecossistema de inovações e projetos disruptivos da Ambev:

“Nosso papel será complementar ao trabalho que já está sendo feito com a agricultura familiar, trazendo ainda mais o olhar da pesquisa e da inovação. Com essas duas frentes, poderemos gerar transformações importantes na cadeia de produção cervejeira e no agronegócio responsável brasileiro.”

Segundo Sommer, o projeto deverá seguir um calendário de ações que visam eliminar as barreiras que atualmente impedem a evolução da cultura:

“Começamos desenvolvendo mudas com comprovação de origem, construímos uma planta de beneficiamento, criamos um modelo de fomento e incentivamos o uso do lúpulo nacional pelas microcervejarias. Entre os próximos desafios estão a regulamentação da cultura e ampliação de acesso ao crédito. O foco é desenvolver e escalar a produção do lúpulo brasileiro com apoio da Fazenda Pratinha, produtores, universidades, Aprolúpulo e outros envolvidos.”

Em agosto de 2021, um passo foi dado à verticalização da cadeia cervejeira. A Lohn Bier lançou uma cerveja totalmente brasileira, a Toda Nossa, uma Brazilian Pale Ale, com lúpulo, cevada e leveduras 100% nacionais, especificamente de Santa Catarina. Além da Toda Nossa, a Lohn Bier produz regularmente a Green Belly, produzida com lúpulos nacionais. A Colorado, outra marca do portfólio Ambev, também utilizou o lúpulo brasileiro em sua recente Hop Lager da Linha Brasil com S, que leva tapioca na receita.

MAIS TECNOLOGIA NA LAVOURA DE LÚPULO

Em setembro, a Ambev havia anunciado que, em parceria com a startup ManejeBem, levaria mais tecnologia às lavouras de lúpulo com uma ferramenta inteligente, capaz de promover melhor desempenho dos pequenos agricultores em sua cadeia produtiva.

Foi mais um passo para impulsionar a agricultura familiar do Estado de Santa Catarina, onde, em 2020, foi criado o Projeto Fazenda Santa Catarina, que fomenta o cultivo de lúpulo em solo brasileiro. Agora, a comunidade local, que já é beneficiada com as mudas da flor, infraestrutura, auxílio técnico e contrato de compra do ingrediente, contará também com a expertise da ManejeBem, descoberta e acelerada pela própria companhia em 2019, por meio do programa Aceleradora 100+, para melhorar o manejo agrícola e aumentar a produtividade de suas produções.

Com uma plataforma acessível e intuitiva, a ManejeBem conecta especialistas a produtores, facilita a assistência técnica, compartilha dicas sobre como plantar e colher, auxilia no planejamento da safra do ano e contabiliza os resultados esperados com aquela plantação, considerando indicadores sociais, ambientais e agronômicos. Além disso, com a ferramenta, os agricultores passam a contar com relatórios de gestão do negócio todos os meses.

Felipe Sommer, coordenador do Projeto Fazenda Santa Catarina da Ambev, contou na ocasião do lançamento:

“Estamos lidando com o desenvolvimento de um insumo que, até pouco tempo, era desacreditado de ser produzido com qualidade no Brasil. A Fazenda Santa Catarina vem conectando os principais atores do cenário do lúpulo nacional (Aprolúpulo, Secretaria da Agricultura, EPAGRI e universidades), que vêm sendo responsáveis pelo desenvolvimento da cultura. Com essa nova plataforma tecnológica, conseguiremos levar todo esse conhecimento para os nossos produtores no campo para que eles tenham resultados cada vez melhores e que as boas práticas sejam compartilhadas.”

O PROJETO DE LÚPULO EM SANTA CATARINA

Ao longo de um ano e meio, o Projeto Fazenda Santa Catarina trouxe quatro variedades de lúpulo para o país e, após testes de manejo e avaliação do potencial agronômico, começou a produção e doação de mudas para os produtores. Todo o lúpulo produzido foi utilizado na produção de novas cervejas, como a Green Belly, a Brazilian Blonde Ale, e a TodaNossa. Para os próximos anos , o projeto espera impactar cerca de 200 famílias.

A parceria entre a Ambev e ManejeBem tem rendido bons frutos. O piloto entre as empresas começou com o Projeto Roots, que estimula o uso de matéria-prima local para o desenvolvimento de novas cervejas, em estados como Maranhão, Ceará, Pernambuco, Piauí e Goiás. Com o impacto positivo do projeto frente às famílias participantes, que cresceu 250% desde sua criação, a companhia trouxe o mesmo modelo de atuação da startup agora para a região Sul do país.

Fonte: https://revistabeerart.com

Ambev inaugura fábrica para beneficiar lúpulo e potencializa agricultores familiares

“Estamos tendo a oportunidade de participar de um momento muito especial e raro quando falamos em agro no Brasil: o nascimento de uma nova cultura.” Felipe Sommer, coordenador de projetos especiais da Ambev, fala entusiasmado sobre a produção de lúpulo no País, às vésperas de inaugurar oficialmente a nova fábrica de beneficiamento da Ambev em Lages, na Serra Catarinense.

A unidade foi construída antes da pandemia no mesmo local da cervejaria e integra o Projeto Fazenda Santa Catarina. O objetivo é fomentar o cultivo de lúpulo no Brasil por meio da agricultura familiar. “É a primeira fábrica de beneficiamento da planta em escala industrial no Brasil. Fundamos em 2019, mas, devido à pandemia, adiamos a inauguração para o próximo mês de abril”, diz o coordenador do projeto, que é engenheiro químico e mestre cervejeiro.

O espaço também abriga um viveiro com capacidade de produção anual de 60 mil mudas, as quais são doadas aos agricultores, e uma lavoura experimental de 1 hectare com variedade de espécies cultivadas para realização de testes de manejo.

“A Ambev não está produzindo lúpulo. Está ajudando os produtores a implementar uma nova cultura, entendendo as suas dores e o estágio de cada um, para quebrar barreiras, ajudar a ganhar escala e qualidade, além de transformar o que hoje ainda é uma matéria-prima agronômica em um produto”, explica.

Embora incipiente, a plantação de lúpulo no Brasil já é uma realidade e a ideia de se iniciar um negócio na área é tentadora. Afinal, o País é o terceiro maior produtor de cerveja no mundo, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindcerv). No entanto, é dependente do lúpulo importado – em 2021, foram importadas 4.721 toneladas da planta, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

A produção brasileira não representa nem 1% do mercado, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo), embora tenha crescido de 9 para 24 toneladas, entre 2020 e 2021. Se em 2018 havia 60 empreendedores do nicho no País, hoje já são ao menos 190 cadastrados pela Aprolúpulo. Cerca de 20 destes, de Santa Catarina e São Paulo, são parceiros da Ambev, totalizando 30 hectares plantados.

Por esse projeto da Ambev, o trabalho começa com a doação de mudas de origem comprovada, uma das limitações para quem está começando, uma vez que o custo da unidade varia de R$ 30 a R$ 40. Depois de plantadas nas terras dos agricultores, técnicos da Ambev fazem a colheita e levam as plantas para serem beneficiadas na fábrica.

Com isso, os produtores têm acesso a uma estrutura cara. Além da máquina de colheita, considerada um dos maiores gargalos da produção atualmente, o negócio ainda requer outros equipamentos, como secador, triturador, peletizadora e embaladora a vácuo.

Da matéria-prima ao produto

A Ambev paga R$ 110 por quilo aos produtores associados que vendem o lúpulo em plantas e R$ 150 por quilo para os que também fazem a colheita. A título de comparação, a matéria-prima importada chega ao Brasil na faixa dos US$ 12 (cerca de R$ 60), pronta para ser utilizada.

“Uma coisa é plantar lúpulo e ter a flor. Outra é produzir o pellet (pequenos cones de lúpulo comprimido a vácuo depois de colhido, seco em estufa e triturado), com análise de alfa ácidos, resina, aromas e pesticidas. Ou seja, toda a transformação de uma matéria-prima em um produto pronto para ser usado nas cervejarias. Por isso, dizemos que é um projeto de fomento”, ressalta o coordenador.

A previsão esse ano é que a fábrica em Lages produza 1,5 tonelada de lúpulo, mas a meta é aumentar a capacidade para 10 toneladas. Para isso, a companhia pretende alcançar mais 20 novos produtores no modelo de fomento em Santa Catarina e quantos parceiros conseguirem Brasil afora, por meio do contrato de compra de lúpulo em flor (já colhido).

“Ano passado, muitas pessoas conheceram o lúpulo e começaram a plantar. Agora é o momento de se pensar em escala. Esse é o ano do boom do lúpulo”, afirma o executivo. Segundo ele, o custo do ingrediente nacional ainda não é competitivo frente ao importado, por isso é tão importante desenvolver nichos e terroir, assim como ocorre com as culturas do café e do vinho.

“Os importados são de altíssima qualidade, mas levam alguns meses para chegar ao Brasil. Ter acesso a um lúpulo novo, mais fresco e produzido localmente pela agricultura familiar, além de diminuir a dependência de importação, dá ao cervejeiro a oportunidade de criar novas receitas, marcas e produtos com outros tipos de apelo com valor comercial. Com o tempo, vamos colocar o nosso tempero e criar um diferencial”, finaliza.

Confira a seguir trechos da entrevista concedida por Felipe Sommer ao Estadão.

Como você vê a produção de lúpulo no Brasil atualmente?

Assim como ocorreu há algumas décadas com a maçã, a uva e a soja, dizia-se que não era possível produzir lúpulo no Brasil por causa do clima. Hoje, há pequenas produções em diferentes locais, como Brasília, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Grande do Sul. Contudo, cabe ressaltar que essa é uma cultura nova, por isso ninguém tem verdades absolutas. Nós, inclusive, estamos aprendendo.

Já dá pra saber quais as características do lúpulo brasileiro?

É muito cedo ainda para falarmos em terroir, como temos no café, na uva e em algumas outras culturas. Os produtores estão testando variedades, manejo e aprendendo a fazer uso de suplementação luminosa. A chinook, por exemplo, é uma variedade de origem americana, com características de amargor, muito usada nas cervejas IPAs, que, no Brasil, apresenta aroma de maracujá, diferentemente da cultivada nos Estados Unidos. Essa já é uma característica do nosso terroir, mas é muito cedo para inserir a informação no rótulo.

Com o tempo, vamos colocar o nosso tempero e criar um diferencial. Do contrário, vai ser difícil fazer essa cultura estourar. O custo do lúpulo nacional ainda não é competitivo frente ao importado, por isso é tão importante desenvolver nichos e terroirs.

Então, o custo do lúpulo produzido no Brasil ainda é superior ao importado?

Pagamos R$ 110 reais/quilo aos produtores associados que vendem em plantas. Para o produtor que já faz a colheita, oferecemos R$ 150/quilo pelo lúpulo em flor (in natura). Os valores são estipulados em contrato e estão coerentes com o mercado, mas há quem ache pouco. A título de comparação: o lúpulo importado, por exemplo dos Estados Unidos ou Alemanha, chega ao Brasil na faixa dos US$ 12 (cerca de R$ 60), em boa qualidade e pronto para ser utilizado. Nós estamos subsidiando praticamente todo o lúpulo produzido por meio do projeto, transformando em pellet e embalando a vácuo, que é a matéria-prima utilizada pelo cervejeiro.

Quais os desafios para quem quer empreender no setor?

A primeira dificuldade é conseguir mudas certificadas, com qualidade e sem doenças, uma vez que existem poucos viveiros no Brasil. Depois, vem a questão do acesso ao beneficiamento. O mercado brasileiro carece de equipamentos e o custo das máquinas gira em torno de seis dígitos.

O manejo também é outro desafio. Não existe uma receita definida, sequer produtos oficialmente regulamentados. Estamos em contato com grandes produtores do agro no exterior para entender, por exemplo, quais defensivos funcionam melhor na plantação de lúpulo, mas é preciso atuar junto ao Ministério da Agricultura para garantir as certificações.

Ter para quem vender também é outra das grandes dificuldades, tendo em vista que a maioria dos produtores ainda está comercializando lúpulo em flor, em pequenos volumes. As plantas de lúpulo tem pouco valor comercial, diferentemente dos pellets embalados a vácuo e com análise de qualidade. Como há poucos laboratórios que fazem o trabalho, o custo também é elevado. 

E onde está o gargalo da produção?

O gargalo da produção é justamente a colheita das plantas. Uma planta chega a ter de 500 a 1000 cones, ou florzinhas. Imagina tirar uma por uma à mão? É quase impossível. Desenvolvemos a primeira máquina de colheita do Brasil para remover a flor há dois anos. Hoje, já há cerca de três no mercado com o mesmo princípio de funcionamento da nossa. Agora, estamos importando outra da Alemanha, que aumenta em 10 vezes a nossa capacidade, de 20 plantas/hora para 200 plantas/hora.

Como o lúpulo é consumido no Brasil?

No Brasil, 99% do lúpulo é importado em pellet à vácuo, em embalagens de 10 kg a 20 kg que duram cerca de dois anos. Esse é o tipo mais utilizado pelas grandes cervejarias e pelas artesanais com um pouco mais de automação. O lúpulo em flor dá muito trabalho para o cervejeiro. Pode entupir equipamento e perder qualidade facilmente. Além disso, precisa ser colhido e levado logo em seguida para fazer a cerveja, se não oxida.

Por que ainda há poucas cervejarias utilizando lúpulo nacional?

Toda vez que se começa uma cultura, lidamos com um organismo vegetal, que tem um tempo de adaptação, além das questões envolvendo o beneficiamento. Estamos em fase de desenvolvimento. Quando colhemos, por exemplo, 1 kg de um lúpulo, processamos e comparamos com o importado, o resultado é maravilhoso. Mas estamos falando de uma escala de quilos, o que é muito pouco.

Para uma cervejaria se comprometer a produzir uma bebida com o lúpulo nacional, ainda não há garantia de que receberá a quantidade e a qualidade necessária. A partir do momento em que o cervejeiro conseguir comprar 100 kg do ingrediente, será possível produzir a mesma cerveja o ano todo, com um lúpulo padronizado, com análise, sabor e aroma padrão. Esse é exatamente o momento em que estamos vivendo. É preciso prestigiar o lúpulo nacional, saber que tem uma concentração menor e o desafio de se ter uma escala, o que implica fazer alterações na receita. Dá trabalho fazer adaptação, mas isso faz parte do desenvolvimento da cadeia.

Diante disso, como incentivar o uso do ingrediente produzido aqui?

O cervejeiro no Brasil já está acostumado a usar o lúpulo importado, seja da Alemanha, Tchecoslováquia ou Estados Unidos. Incentivá-lo a utilizar o lúpulo nacional não é tarefa simples e requer um processo de convencimento. É necessário exaltar o ingrediente local, regional ou nacional, mais fresco e oriundo da agricultura familiar para termos um apelo frente ao importado. Precisamos criar valor à matéria-prima nacional, por isso estamos em contato com toda a cadeia produtiva. Queremos chamar a atenção da indústria para essa nova cultura que está nascendo e para um mercado que pode ser gigantesco.

A Ambev já utiliza o lúpulo nacional?

Já lançamos quatro rótulos. Na primeira vez, o ingrediente deu vida à Green Belly, feita junto à catarinense Lohn Bier. É uma cerveja com produção regular, mas vendida apenas nas redes de supermercado de Santa Catarina e via e-commerce. Meses depois, desenvolvemos a Brazilian Blonde Ale e a TodaNossa, que é feita com lúpulo, malte de cevada e fermento nacionais. Por último, produzimos uma edição especial da Colorado Brasil com S.

Assim que tivermos uma escala que nos permita ter um volume de 5 a 10 toneladas de lúpulo, a intenção é ter uma cerveja regular. Para se ter uma ideia, a escala de uma cervejaria artesanal é da ordem de milhares de litros, enquanto a de uma grande empresa gira em torno de milhões de litros. Queremos fomentar o ecossistema produtor de lúpulo. A ideia é que outros cervejeiros também usem o ingrediente, não só a Ambev, para se criar um mercado.

Quais são as variedades de lúpulo mais plantadas no Brasil?

Varia muito de acordo com a região. Arrisco a dizer que a espécie mais plantada atualmente é a cascade, porque é um tipo lúpulo americano usado para a fabricação de diversos estilos de cervejas. Mas já tive acesso a mais de 15 variedades, dos EUA, da Europa, da Tchecoslováquia e da África, sendo testadas no Brasil. No viveiro da Ambev, importamos mudas da Alemanha e dos Estados Unidos e trabalhamos com quatro variedades, mas há produtores parceiros com mais de 10. Estamos em fase de escolher as que mais se adaptam e são mais interessantes do ponto de vista cervejeiro.

O governo tem atuado no desenvolvimento da cadeia?

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) teve um papel importante, há cerca de dois a três anos, ao fornecer a autorização e a regulamentação para plantar lúpulo no Brasil. Assim como vem ocorrendo com o cenário da cannabis, o MAPA tem que autorizar a importação das mudas. Agora, o governo vai ser fundamental para regulamentar o manejo. É preciso registrar os herbicidas, os fungicidas, o adubo, até mesmo os produtos orgânicos, a serem usados na cultura do lúpulo. A Ambev e a Aprolúpulo vêm trabalhando nesse sentido.

Também fazemos parcerias junto a órgãos como a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) e Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), que contam com extensionistas e agrônomos. Treinamos os profissionais para que possam auxiliar os produtores com questões relacionadas ao manejo, afinal, tudo é novo.

Ambev leva projeto de cultivo de lúpulo para Ribeirão Preto

O lúpulo brasileiro e o curupira estão cada vez mais distantes. Não faz muito tempo, os dois eram tratados como lenda por aqui. Porém recentemente um deles — o lúpulo— começou a se tornar uma feliz realidade, ainda que em escala pequena.

Vem de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, a nova iniciativa com o lúpulo —um dos ingredientes da cerveja, ao lado do malte, da água e da levedura. Localizada na Fazenda Pratinha, a Silver Hops fechou uma parceria com o projeto Fazenda Santa Catarina, da Ambev, para plantação e pesquisa da florzinha, responsável pelo aroma e amargor da cerveja.

Na região sul, o projeto da Ambev já começou a colher frutos. A Lohn Bier, de Santa Catarina, já lançou dois rótulos com o lúpulo de Santa Catarina: a Green Belly e, neste ano, a Toda Nossa, em parceria com a Ambev. A Colorado também usou o lúpulo nacional na hop Lager da linha Brasil com S, que valoriza ingredientes de biomas brasileiros e tinha também tapioca na receita —a cervejaria de Ribeirão Preto integra o portfólio da Ambev.

Por enquanto, a Silver Hops ainda está realizando os testes de adaptação climática para o cultivo da florzinha, que não tem vida fácil no país. Via de regra, o lúpulo precisa de muita exposição à luz, algo entre dez e 13 horas diárias, como acontece no verão europeu; ao mesmo tempo, gosta das temperaturas mais amenas do hemisfério Norte. A Silver Hops pretende dedicar 1,5 hectare para o cultivo de nove variedades do lúpulo.

“Nosso papel será complementar o trabalho que já está sendo feito com a agricultura familiar, trazendo ainda mais o olhar da pesquisa e da inovação. Com essas duas frentes, poderemos gerar transformações importantes na cadeia de produção cervejeira e no agronegócio responsável brasileiro”, afirma José Virgílio Braghetto Neto, responsável pela Silver Hops.

Para Felipe Sommer, coordenador do projeto Fazenda Santa Catarina, da Ambev, o projeto integrado “garante uma produção de lúpulo nacional de altíssima qualidade”. Para Sommer, é fundamental integrar os pequenos produtores no desenvolvimento do lúpulo, incluindo a ampliação e o acesso ao crédito. “O foco é desenvolver e escalar a produção do lúpulo brasileiro com apoio da Fazenda Pratinha, produtores, universidades, Aprolúpulo [Associação Brasileira dos Produtores de Lúpulo] e outros envolvidos”, afirma.

OUTRAS INICIATIVAS

Entre outras ações envolvendo o lúpulo brasileiro, tivemos em 2020 também a Braza Hops, uma german pils lançada pela Black Princess, do grupo Petrópolis —com lúpulos que floresceram em plantações de Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro.

Muito antes disso, a Baden Baden, de Campos do Jordão, já havia utilizado a florzinha cultivada na própria região, utilizada também em outras cervejas artesanais nas cercanias da Serra da Mantiqueira, sempre em pequena escala.

Já a Cuesta Cervejaria, de Botucatu, interior de São Paulo, lançou em 2019, em parceria com a Carranca, um pequeno lote de uma hazy IPA feita 100% com ingredientes locais.

Todas as iniciativas no desenvolvimento do lúpulo brasileiro são muito importantes para o mercado, que usa quase 100% do ingrediente importado, principalmente de países como Alemanha, República Tcheca e Estados Unidos. Um lúpulo que cresça com características do terroir brasileiro é fundamental para quem sonha em ver o país como uma nova referência de escola cervejeira no mundo.

Brasil ganha primeira indústria de transformação de lúpulo

A cidade de Lages (SC) é a sede da primeira linha completa de processamento de lúpulo no Brasil. De propriedade da Ambev, o local é a última fase do Projeto Fazenda Santa Catarina, de incentivo e fomento à cultura do ingrediente essencial na produção das cervejas, e o impulsionamento do mercado cervejeiro nacional.

A iniciativa, realizada em colaboração com pequenos agricultores catarinenses, foi iniciada em 2020 no município, onde o lúpulo é desenvolvido desde o seu plantio até se tornar matéria-prima pronta para uso nas cervejarias. Agora, com a conclusão da planta piloto, os produtores poderão seguir diretamente da colheita para o processo de limpeza, secagem e embalagem para a venda, e poderão utilizar toda a infraestrutura.

No local também vai funcionar um viveiro. Ao longo dos próximos meses, produtores locais devem ser selecionados para receber 60 mil mudas de lúpulo. O plantio deve ter início em setembro para que a primeira safra ocorra em março de 2022. A expectativa é que aproximadamente 500 famílias sejam beneficiadas pelo programa nos próximos cinco anos.

“Até um passado recente, o cultivo nacional de lúpulo parecia distante de se tornar realidade em terras brasileiras, já que seu desenvolvimento acontecia favoravelmente em climas frios, com alta incidência solar. Foi em Lages, onde já existia um tímido plantio, que a Ambev conciliou a vontade de produzir lúpulo nacional à experiência da comunidade local, para criar um projeto colaborativo de fortalecimento ao ecossistema”, conta Felipe Sommer, coordenador do Projeto Fazenda Santa Catarina.

Além da doação de mudas, as iniciativas da companhia contemplam desde auxílio técnico para os produtores até o contrato de compra das plantas. As primeiras fases do projeto contaram também com o lançamento de duas cervejas produzidas com lúpulo nacional.